Tanto Itália quanto Brasil possuem maioria da população cristã, sendo a Páscoa uma das datas mais queridas do ano. Assim, hoje vamos ver o que acontece de diferente com o coelhinho italiano!
A Páscoa é uma das épocas mais aguardadas e reverenciadas do ano para brasileiros e italianos. Muito mais do que um feriado prolongado, é um tempo de reflexão, circunspecção religiosa e união com a família e as tradições. Há muita coisa em comum entre a Páscoa brasileira e a italiana, mas aqui no país da bota temos algumas surpresinhas adicionais, que vão desde pessoas saindo às ruas encapuzadas até ovinhos para encontrar o grande amor!
Talvez a maior surpresa para brasileiros seja perceber que, por aqui, o tão famoso ‘coelhinho da Páscoa’ é praticamente ignorado! Os ovos de chocolate, porém, continuam sendo um enorme sucesso!
Vou contar para vocês algumas curiosidades da ‘Pasqua‘ italiana a seguir. Antes de tudo, lembre-se que a Itália é um país do hemisfério norte, com estações mais bem definidas que as brasileiras e invernos muito mais rigorosos. A Páscoa é justamente a época em que o frio já foi embora e o sentimento de renascimento cresce no coração de cada um. É com este espírito – e mais uma boa dose de religiosidade! – que entramos nesse feriado!
Veja também:
Tradições diferentonas de Páscoa na Itália
Algumas cidades italianas tem tradições bastante diferentes e inusitadas para celebrar a Páscoa. Muitos fiéis seguem essas tradições desde a Antiguidade, e as reproduzem fielmente até os dias de hoje. Nada como um país com séculos de história para manter tradições por tanto tempo, não?
Vamos conhecer algumas delas, a começar por Roma – que mudou muito suas tradições por conta do Vaticano! Falaremos também de outras formas de celebração, algumas bem fortes e diferentes…
Roma: culto à fertilidade
Segundo conta a história, os antigos romanos comemoravam a Páscoa com um culto à fertilidade, em que as crianças saiam em busca de ovos escondidos pela casas e, em troca, ganhavam doces. Ainda hoje, em Roma e no Brasil, famílias se divertem com esse costume no Domingo de Páscoa.
Hoje, Roma celebra a Páscoa de forma muito diferente, com solenidades e austeridade litúrgica, comandadas pelo Papa e acompanhadas por milhares de peregrinos do mundo todo. O ápice dessas celebrações da Semana Santa é a benção anual Urbi et Orbi, “à cidade de Roma e ao mundo”, feita na Praça São Pedro. Com certeza a mensagem deste ano será um forte apelo à paz e à tolerância entre os povos, coisas que estamos urgentemente precisando.
Calábria e Sicília: encapuzados e sofredores!
Em Villarosa, na Sicília, a população celebra a Sexta-feira Santa com tradições únicas que só vemos por lá. Os fiéis se vestem de branco e todos saem encapuzados pelas ruas.
Na madrugada de sexta para sábado, os fiéis mais fervorosos de Nocera Terinese, na Calábria, fazem um ritual bastante agressivo para quem não está acostumado, em que se açoitam em rituais de auto-flagelação, uma forma de ‘purificação’ que vem lá da Idade Média.
Dolomitas: ovos para arranjar esposa
Escondida nas montanhas Dolomitas, Val Gardena preserva uma antiga e curiosa tradição: a Ji a ueves, no dialeto local. No dia de São José, 19 de março, os solteiros da cidade vão até as casas onde moram moças solteiras e encomendam com elas ovos pintados, que serão recolhidos na segunda-feira de Páscoa. Se uma moça solteira se interessar por algum dos rapazes, ela pintará o ovo diferentemente de todos os outros, assim o pretendente saberá que é correspondido! Muito fofo, não? Os ovos que não forem entregues devem ser enterrados sob a neve. Mais tarde, durante a primavera e com o degelo da neve, as crianças vão se divertir encontrando os ovos que foram enterrados.
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E você deve estar se perguntando: “Mas e o Ovo de Páscoa?”
A Páscoa na Itália também tem essa tradição de presentear os entes e amigos queridos com ovos de chocolate – que é bem ‘moderna’, diga-se de passagem. Talvez não com tanta força “comercial” como aí no Brasil, mas existe.
O hábito de dar ovos, na verdade, é uma tradição pagã muito antiga, que foi adaptada pelos franceses. Antes do ovo de chocolate, as pessoas trocavam ovos de galinha. Em alguns lugares, as pessoas decoravam as cascas dos ovos antes de presentear alguém (para quem já passou de certa idade, vai se lembrar de ter feito carinhas e pinturas em casas de ovos no tempo da escola). Os chineses e os ucranianos, por exemplo, tinham o hábito de presentear com ovos para celebrar a chegada da primavera, simbolizando o início da vida.
Mais adiante no tempo, os cristãos acabaram adaptando essa tradição. Para festejar a Páscoa, que celebra a ressurreição de Cristo, passaram a dar ovos decorados com figuras religiosas.
Na Inglaterra, no século X, o rei Eduardo I presenteava nobres e súditos com ovos de galinha banhados em ouro ou decorados com pedras preciosas na Páscoa.
Foi somente no século XVIII que alguns confeiteiros franceses tiveram a ideia de fazer os ovos com chocolate – iguaria que acabava de chegar das colônias na América.
O Coelho da Páscoa surgiu mais ou menos na mesma época. A associação entre os ovos de Páscoa e o coelho se deu por conta do tamanho de sua ninhada. Queriam mostrar que a mensagem de paz e amor de Jesus Cristo poderia “se reproduzir” entre os homens com a mesma velocidade do coelho. A ideia é que, mais do que se deleitar com ovos de chocolate, a Páscoa é uma data para comemorar a renovação da fé e a paz entre os homens de boa vontade.
Sexta-feira Santa e… segunda-feira também?
Uma característica pra lá de interessante da Páscoa italiana – e que com certeza muitos brasileiros adorariam adotar também! – é que o feriado, por aqui, vai da Sexta-feira Santa até a segunda-feira! Isso mesmo: a segunda-feira logo após o Domingo de Páscoa também é feriado! 🙂
Pergunte para qualquer italiano o motivo. Há uma boa chance dele responder: “Para quê comemorar apenas a morte de Cristo? O importante mesmo é celebrar a Ressurreição! Por isso mesmo, celebremos também a segunda-feira!”.
A segunda-feira pós-Domingo de Páscoa se chama Pasquetta, e é um dia para sair de casa e ficar com os amigos. Como se diz por aqui, “Natale con i tuoi, Pasqua con chi vuoi“. Isto é, no Natal você fica com sua família, na Páscoa com quem você quiser! Já que o Domingo de Páscoa costuma ser uma data para celebrar junto com os parentes, sobra a Pasquetta para curtir com os amigos.
Origem da Páscoa
Moisés abrindo o Mar Vermelho para a passagem dos hebreus.
A Páscoa marca o encerramento da Semana Santa, que tem início no Domingo de Ramos, 07 dias antes do Domingo de Páscoa. Isso provavelmente você já sabia. Mas o que pouca gente sabe é que, originalmente, a Páscoa não era uma festa cristã.
A origem da celebração da Páscoa vem das tradições judaicas relatadas no Antigo Testamento, no livro “Êxodo” (que significa “saída”). O livro conta como o povo judeu fugiu do Egito e se libertou da escravidão. Ramsés II, Rei do Egito, temia que o crescimento do povo de Israel enfraquecesse seu poder e colocasse seu trono a prêmio. Por isso, passou a dar ordens que levaram os judeus a um período de grande sofrimento.
Conta a Bíblia que, para dar fim ao sofrimento de seu povo, Deus escolheu Moisés para tirá-los do Egito e lhe deu os poderes necessários para que cumprisse sua missão. A Semana Santa simboliza o período em que o povo hebreu iniciou sua jornada de saída do Egito. Por ordens de Deus, deveriam se alimentar apenas de pão sem fermento, o que explica o jejum que muitas pessoas fazem nesta época do ano, e no último dia, quando já estivessem fora do Egito, festejariam o Pessach, ou a primeira Páscoa.
A palavra Páscoa deriva do nome dessa celebração, Pessach, que em hebraico significa passagem. Para os católicos, Jesus Cristo deu novo significado à Páscoa, criando uma nova aliança com a humanidade por meio de Sua morte e ressurreição, trazendo a esperança de uma vida melhor.
Ainda hoje, os judeus celebram a Páscoa, mas de uma forma bem diferente da cristã, relembrando o sofrimento de seu povo.
A Semana Santa
Durante a Quaresma, 40 dias antes da Semana Santa e da Páscoa, os cristãos fazem penitências em memória dos 40 dias de sofrimento que Jesus passou no deserto antes de sua crucificação.
O Domingo de Ramos marca o início da Semana Santa e relembra a chegada de Jesus a Jerusalém, e o momento em que as pessoas cobriam a estrada com folhas da palmeira, celebrando sua chegada.
Durante a Semana Santa, tanto a Igreja como a própria comunidade realizam vários eventos, como procissões, rituais religiosos, encenações sacras, festas e tradições populares para comemorar a Paixão de Cristo.
Ao longo da Semana Santa, é comum também a encenação de passagens bíblicas como a Última Ceia, o ritual de Lava-pés, a traição de Judas, o Calvário, a morte de Cristo e sua Ressurreição.
O que celebramos em cada dia da Semana Santa?
Na Quinta-Feira Santa, o dia começa com a Missa de Crisma, em que são consagrados os óleos santos que serão utilizados na Crisma, Unção de Enfermos e no Batismo. Acontece também o ritual de lavagem dos pés. A Quaresma termina às 9 horas de quinta e, então, se inicia a Páscoa.
A Sexta-Feira Santa, ou Sexta-Feira da Paixão, é o dia que relembra a paixão e morte de Jesus crucificado, por isso é um dia de luto. As procissões noturnas são iluminadas por velas e tochas e percorrem um longo caminho com cantos e orações de lamento. Nas missas não se faz a eucaristia. Em algumas cidades da Itália é encenado o “encontro” entre Maria e Jesus Cristo antes de sua crucificação. Muitos católicos deixam de comer carne vermelha na Sexta Feira Santa (alguns durante os 40 dias de Quaresma), alusão feita pela Igreja ao sangue derramado de Cristo – muita gente acha que essa tradição é apenas brasileira, porém é praticada na Itália também.
O Sábado Santo, ou Sábado de Aleluia, é o único dia em que não ocorre liturgia e não se celebra nem as tradicionais missas de sábado. A tradição diz que as imagens do Santíssimo devem ser guardadas na sacristia durante esse dia.
Domingo de Páscoa, ápice do período, é o momento de celebrar a Ressurreição de Cristo e sua primeira aparição entre os seus discípulos. É, sem dúvida, a principal data festiva para os católicos depois do Natal.
É por isso que o Domingo de Páscoa é um dia de imensa alegria. Após o longo período de jejuns e reflexões da Quaresma, celebramos o Domingo com uma bela ceia, com muitos pães, cordeiro, tortas salgadas, muita fartura e, claro, muito vinho e a companhia da família!
Páscoa na Itália – Dicas finais
Ficou curioso(a) com a Páscoa italiana?
Você nem imagina as delícias gastronômicas que costumam aparecer por aqui nesta época do ano! Que tal vir para cá no ano que vem curtir essa data tão especial (e de preferência com sua cidadania italiana em mãos!)?
Ah, se quiser, é claro, venha este ano também – o Natal italiano é pra lá de maravilhoso!
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