Cidadania italiana para descendentes trentinos: é possível obter?

 – Descubra porque os descendentes trentinos encontram dificuldades em obter a cidadania italiana, e se é possível fazer alguma coisa para mudar essa situação.

Na porção nordeste da Itália, bem ao norte, fica Trentino. Trata-se de uma província autônoma italiana. Isso significa que, apesar de fazer parte da Itália, Trentino possui ampla autonomia administrativa. O título decorre de seu longo histórico de região independente entre uma tríplice fronteira (saiba mais na seção “A História do Trentino” a seguir). Isso traz algumas novidades para quem pretende buscar a cidadania italiana por descendência.

Descubra Trentino e suas belas localidades, assim como a história e a cultura do local, enquanto aprende tudo sobre a cidadania italiana para descentes trentinos. 🙂

UMA GUERRA EM BUSCA DA CIDADANIA

Apesar de possuir uma população que por muitos séculos foi ligada à cultura e ao modo de vida romano, no início do século XIX (25 de dezembro 1867), Trentino foi anexado pelo germânico Império Austro-Húngaro. A região voltou a fazer parte da Itália apenas no final da 1ª Guerra Mundial, com o tratado de Saint-Germain (que entrou em vigor em 16 de julho de 1920).

Nessa época, não foi difícil para os moradores do Trentino obterem a cidadania italiana, já que a região passou a fazer parte do país da bota. O problema é que milhares de trentinos emigraram de lá durante a Grande Guerra, muitas vezes sem documentos e deixando tudo o que tinham para trás.

Trentino é um dos locais mais bonitos da Itália. Apesar de tantos encantos, a região possui várias guerras no currículo, por conta da proximidade com os demais países continentais.

Assim, houve muita confusão nos anos pós-guerra em relação à cidadania dos emigrados. Os trentinos que voltavam à região não conseguiam provar que moravam lá antes da Guerra, e o governo não ofereceu para eles a cidadania na Itália, apesar da anexação. Pior ainda: descendentes de trentinos encontravam enormes dificuldades em provar que seus pais habitavam na região na época antes da guerra, e eles também ficaram sem a cidadania italiana por descendência.

Por esse motivo, muitos trentinos e descendentes de trentinos eram considerados ‘imigrantes’ pelo governo italiano, apesar de possuírem todo um histórico de vida naquela região.

A CIDADANIA ITALIANA PARA DESCENDENTES TRENTINOS

A situação de ‘párias’ dos descendentes do Trentino não era exclusiva. Habitantes (e descendentes desses habitantes) de diversas outras regiões que a Itália anexou após a 1ª Guerra também sofriam ao não conseguirem a cidadania. Surgiram vários movimentos políticos e sociais buscando convencer o governo italiano a fornecer os documentos certos e a tornar cidadão quem sempre morou nas terras agora pertencentes à Itália.

Assim, em dezembro do ano 2000, o Parlamento italiano aprovou uma lei que acabava com a discriminação (Legge 14 dicembre 2000, n. 379). Emigrantes e seus descendentes poderiam requisitar a cidadania italiana, tanto na Itália quanto no país em que atualmente habitavam. Bastava apresentar alguns documentos e históricos familiares.

Infelizmente, a boa notícia durou pouco. A lei de 2000 previa que a obtenção da cidadania italiana para descendentes trentinos e de demais províncias anexadas (elenco dos Comuni – ‘Circolare del Ministero Dell’Interno del 24 dicembre 2001 k.78’) só seria possível até dezembro de 2010. Depois desta data, as leis endureceram novamente.

Ou seja, quem aproveitou, aproveitou. Hoje é praticamente impossível conseguir a cidadania italiana se você for descendente de trentinos ou de familiares que moravam em regiões anexadas pela Itália em 1919. Há pressões políticas para que isto mude, mas não há nenhuma indicação no futuro próximo de que a situação melhorará para os descendentes.

Que fique claro: Se o seu ascendente trentino nasceu após 16 de julho de 1920, então certamente ele é considerado cidadão italiano e você poderá solicitar o reconhecimento da sua cidadania. Os problemas burocráticos referem-se aos trentinos (e seus descendentes ) que nasceram e moravam na região antes da anexação.

A HISTÓRIA DO TRENTINO – UM POVO FORTE E INDEPENDENTE

A região trentina tem muita história para contar. Desde muito antes da Idade Média – na verdade, desde a chamada Idade da Pedra -, há registros de povos vivendo na área. Possivelmente atraídos pela beleza do local, fartura de alimentos e animais, presença de uma grande rio por perto (o rio Ádige, segundo maior da Itália) e climas moderados, os primeiros moradores fixaram-se ali e começaram a construir uma comunidade fortemente vinculada ao solo de Trentino. Hoje, cerca de 500 mil pessoas moram por lá.

Ao longo dos séculos, a região foi conquistada por diversos povos. Perto do ano 700 depois de Cristo, a região, pela primeira vez, foi anexada. Após ser conquistada pelo Francos, passou a fazer parte do Reino da Itália – uma associação de comunidades mais ou menos parecidas com o que forma a Itália hoje. Do ano 1027 até cerca de 1800, Trentino adquiriu e manteve um status de relativa autonomia em relação aos países que a conquistavam. Enquanto guerras mudavam a geopolítica da Europa ao seu redor, a população trentina sempre se manteve unida e ‘cuidando da própria vida’, com uma administração pública amplamente independente dos reinos ou países aos quais fez parte.

Todavia, com a chegada do século XIX, o equilíbrio de poderes mudou. Trentino fica logo na divisa entre Itália, Suíça e Áustria, uma região estratégica em termos militares e políticos. Nesta época, Trentino passou a fazer parte do Império Austro-Húngaro. Havia um ou outro movimento, liderado principalmente por intelectuais, que pretendia reunir Trentino à Itália, e não ao império de língua alemã. Entretanto, a estabilidade política e econômica mantinha na população a vontade de deixar tudo como estava.

HISTÓRIA DO TRENTINO – DE VOLTA PARA A MINHA TERRA

Com a eclosão da 1ª Guerra Mundial, opondo italianos a alemães e austríacos, Trentino sofreu grave destruição e perda de população. Uma alta porcentagem dos habitantes morreu na guerra, e milhares de outras pessoas ficaram feridas. Após o conflito, Trentino passou novamente a fazer parte da Itália.

Hoje a região oficialmente é parte da Itália, porém possui grande autonomia administrativa. A meta ao lidar com Trentino e sua população é sempre respeitar o longo histórico do povo com a terra, mantendo seus costumes, belezas e tradições.

TRENTINO – CULTURA RICA E BELEZAS NATURAIS

Apesar das más notícias em relação à obtenção de cidadania italiana por descendentes trentinos, ainda vale a pena conhecer a região. A cultura de lá é riquíssima, assim como as belezas naturais.

Trentino fica numa região montanhosa (Dolomitas) repleta de vales, parques naturais e lagos que refrescam o corpo e a alma. Os lagos Caldonazzo, Garda e Ledro são alguns dos mais famosos, e oferecem diversas opções de lazer e vistas de tirar o fôlego.

A arquitetura das casas e as atividades culturais não nos deixam esquecer que Trentino já fez parte de diversos impérios e reinos, sendo um importante ‘caldeirão cultural’ europeu. Indícios da cultura alemã, italiana e ladina são encontrados em toda parte. Castelos maravilhosos como o Castello di Sabbionara d’Avio e Castello di Arco competem em beleza e importância histórica com o sacro Santuario di San Romedio. As tradicionais feiras natalinas e festivais de São Virgílio dividem o calendário com o moderno e “sério” Festival da Economia do Trentino, no qual grandes nomes da economia – inclusive prêmios Nobel – discutem a céu aberto diretamente com a população sobre as questões econômicas mais importantes.

Modernidade e tradição andam muito bem, lado a lado, no Trentino. Visitar a região – mesmo sem a tão sonhada cidadania italiana – continua sendo um programa e tanto para quem busca se enveredar por alguns dos locais mais belos de toda a Europa.